quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Reforma ortográfica?

Reforma o quê?
A BBC Brasil tenta aprofundar-se na polêmica reforma ortográfica da língua portuguesa fazendo uma série de matérias sobre o assunto.
A primeira matéria foi sobre o mirandês, língua derivada do leonês, falada na região de Miranda do Douro, norte de Portugal.

Placa em mirandês no município de Miranda do Douro, norte de Portugal.

A língua que por muito tempo foi considerada um dialeto, tem status de língua oficial nessa região de Portugal junto com o português.
Cerca de 15 mil pessoas falam o mirandês e tentam manter viva a cultura da região.
O interessante nessa matéria é que em tempos de reforma ortográfica da língua portuguesa, existem pessoas vivendo em países lusófonos que estão interessadas (desculpem a cacofonia) em assuntos bem mais importantes como a preservação da cultura local de uma comunidade.
Tais situações, como a do povo mirandês e de muitas minorias étnicas espalhadas pelo mundo (e, em especial nesse momento, nos países lusófonos), intriga e gera dúvidas sobre um ''acordo'' ortográfico que só o Brasil até o momento ratificou.
Será que a situação desses povos e toda sua especificidade cultural não é relevante dentro de uma reforma ortográfica?
Será que, antes de reformar a ortografia portuguesa, não seria válido a criação de métodos de apoio à línguas e dialetos minoritários visando a sobrevivência de culturas autóctones?
E, quais são os reais benefícios de uma reforma na ortografia portuguesa para esses povos e para o povo comum, que usa o português como primeira língua nos países lusófonos e que também possuem várias diferenças?
Tais perguntas só serão respondidas com o tempo, creio.
O que tenho lido é que muitas línguas e dialetos pelo mundo a fora não possuem, ao menos, status de língua oficial nas regiões onde ainda há resquícios de suas presenças e os poucos falantes lutam contra a extinção das mesmas bem como parte de sua cultura.
A própria BBC noticiou recentemente sobre o polêmico texto da ONU sobre a extinção do Cornish (Córnico, em tradução livre) como língua falada, sendo que há lojas, textos, rádios, programas de tv, sinalização urbana e turística em córnico, além de pessoas que ainda falam a língua na região da Cornualha.

Placa de boas-vindas em inglês e córnico perto de Plymouth, Inglaterra.

Muitos culpam o processo acelerado de globalização como fator determinante na extinção de algumas dessas línguas. Já eu prefiro culpar os poucos humanos (será que são mesmos humanos?) que estão no poder por não criarem mecanismos contra a extinção de culturas valiosas para toda a humanidade.
Globalização deve ser encarada como oportunidade, não ameaça. E o que seria do mundo globalizado sem a diversidade cultural?
Mecanismos devem ser criados para fortalecer as minorias, que são tão valiosas como qualquer outra cultura e devem ser inseridas na realidade mundial.
Em tempos de crise econômica global, a reforma ortográfica da língua portuguesa parece ser bem mais importante para poucos e irrelevante na vida de muitos.



Outros links úteis:
Cornish Language Partnership (Uma das organizações que promovem a língua córnica)
The European Charter for Regional or Minority Languages (Carta Européia das Línguas Regionais ou Minoritárias). É um tratado adotado pelo Conselho Europeu para promover línguas regionais e minoritárias na Europa.
You sou mirandés! (Portal da cidade de Miranda do Douro que promove a difusão da cultura mirandesa na rede)
Mirandês no Sapo (Site em mirandês do Centro de estudos lingüísticos da Universidade de Lisboa)

Um comentário:

  1. Boa noite,

    Sou o mirandês, responsável pelo site YouSouMirandes, em www.bragancanet.pt/miranda, venho por este meio agradeçer as suas palavras sobre o meu trabalho, caso queira contactar comigo envie email para yousoumirandes@gmail.com.
    Mais uma vez obrigado pelo seu interesse pelo mirandes, e por ter dedicado este espaço à minha terra.
    Raúl Silva

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